terça-feira, 7 de março de 2017

#6: Ratos - Gordon Reece





Oi, oi! Depois de um tempo de sumiço, hoje tem resenha nova, vem ver o que eu achei de Ratos:

[...] sempre existirão limites – fronteira que simplesmente não somos capazes de atravessar, questões que nos tocam tão profundamente que não podem ser compartilhadas. Talvez, pensei, aquilo que não conseguimos compartilhar com os outros seja o que define quem somos.
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Quando um gato entra na toca dos ratos, ele não vai embora deixando-os ilesos. Eu sabia como aquela história iria terminar. Ele mataria nós duas.

A primeira leitura do ano foi uma grata surpresa. Um thriller psicológico envolvente do começo ao fim. Ratos, de Gordon Reece, me conquistou pela narrativa fluida e, principalmente, pelos conflitos que as personagens principais passam, nos fazendo questionar sobre qual o limite do homem diante de situações extremas.
Ratos conta a história de Shelley e sua mãe, Elizabeth. Logo no início da leitura somos apresentadas ao “universo” oprimido que as duas vivem, cheias de medo do mundo, das pessoas e de como se impor diante deles. Elas são completamente passivas em tudo que fazem, submissas a níveis difíceis de ler sem causar incomodo.  Verdadeiras marionetes do mundo que as cerca, seguindo sem argumentar ou negar nada, mesmo que isso as prejudique profundamente.
A princípio, depois de nos familiarizarmos com a “condição’’ oprimida de Shelley, a leitura parece tratar somente sobre bullying e as possíveis consequências que podem deixar em uma pessoa. Estava enganada? Não inteiramente. O tema está intimamente ligado à futuras modificações que ocorrem nas duas personagens, principalmente em Shelley.
A primeira parte do livro apresenta as duas personagens acuadas acerca dos acontecidos com Shelley, e as marcas literalmente deixadas na garota vítima de bullying na escola. Somos inseridos aos problemas que a personagem principal enfrenta na escola e temos um breve conhecimento de quando tudo começou a mudar.

Tudo começou lentamente, com comentários irônicos de depreciativos que poderiam ser vistos como brincadeiras, mas que logo perderam qualquer vestígio de bom humor e mostraram ser o que realmente eram: palavras hostis e maldosas, ditas para machucas. Eu fiquei em choque. Depois de tantos anos de amizade, o fato de minhas amigas já não gostarem de mim me deixou surpreendida, desnorteada.

De melhores amigas a inimigas quase mortais. A evolução dos abusos se tornavam cada vez mais repugnantes e o tempo todo me perguntei como uma pessoa conseguia suportar tais agressões diariamente. Mas não esqueçam, os ratos simplesmente se escondem e não conseguem enfrentar o caçador.  Ela era um rato. Nada mais.
A incapacidade de falar, de pedir ajuda ou se defender simplesmente não faziam parte da personalidade de Shelley, sempre conformada com as situações que lhe impunham. Sofreu em silêncio por muito tempo, tendo como único refúgio um diário.

Além disso, contar à minha mãe ou à escola significaria confrontar minhas perseguidoras, e eu era completamente incapaz disso. Simplesmente não tinha essa força. Não tinha essa personalidade. Eu era um rato, não esqueça. Parecia-me mais natural não dizer nada, sofrer em silêncio, manter-me quieta e esperar não ser vista, e esgueirar-me pelos cantos à procura de um lugar seguro onde pudesse me esconder.
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Eu rabiscava inconscientemente a folha de papel enquanto revirava frases de despedida em minha mente, e quando olhei para a mesa, não consegui conter um sorriso amargo ao perceber o que eu havia desenhado. Era um rato. E ao redor de seu pescoço havia uma corda grossa.

A segunda parte, talvez a mais envolvente e eletrizante, ocorrem as principais reviravoltas da trama. Chega o momento da tão esperada mudança em ambas as personagens, embora tenha se dado de forma a ser questionada. Digo isso devido às ações e motivações que Shelley e Elizabeth tomaram, porém surpreendente lhes transformou em algo diferente. Isso causou um sentimento novo, um estado de espirito diferente, desconhecido até então em Shelley.
Não eram mais simples ratos. Não eram a caça. Se tornaram o caçador!

Quando olhei meu reflexo novamente, fiquei surpresa ao ver meus dentes brancos. Eu sorria abertamente. E, então, soube qual era aquela emoção destoante: era alegria.
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